Cuidar de um Doente Deprimido

Ser cuidador de um doente com depressão é um grande desafio. Nem sempre compreendido e reconhecido.

A depressão tem estado ligada à condição humana e às experiências de vida traumáticas, exercendo um impacto negativo na vida do sujeito, favorecendo o relacionamento familiar problemático, o comprometimento social e a perda de autoconfiança e autoestima (Parker, Paterson, Fletcher, Hyett & Blanch, 2012).

A doença quando surge no seio de uma família é de estranheza, ninguém consegue perceber aquela alteração de comportamento, ninguém está preparado para lidar com um sofrimento tão estranho que não tem uma dor física, uma ferida para tratar… São as alterações contínuas no comportamento do sujeito que vão realmente alertando a família e os mais chegados de que algo definitivamente não está bem. Começa por abandonar tarefas e papeis que tinha a seu cargo, deixa de querer cuidar de si, deixa de querer viver.

São inúmeras vezes que o sujeito deprimido não confia na capacidade dos que lhe são próximos para o ajudar. Ignora conselhos, questiona afirmações de ajuda, “mas quem são eles para me dar conselhos, o que é que eles percebem disto?”. Então o doente isola-se e evita o diálogo, assumindo uma posição defensiva.

Na verdade, a maior parte dos familiares, quando no caso são eles os cuidadores não têm conhecimento suficiente para fornecer o apoio necessário, causando sofrimento em ambas as partes.

Ser cuidador é um grande desafio, envolve todo um conjunto de sentimentos inerentes à vivência de um acontecimento não esperado. O cuidar não causa depressão, nem todas as pessoas que cuidam de um paciente com depressão, apesar de uma invasão de sentimentos negativos não terão depressão. Mas muitas vezes o esforço que o cuidador faz para manter e fornecer o melhor cuidado possível, desgasta-os emocionalmente, uma vez que sacrificam as suas próprias necessidades físicas e emocionais. E podem surgir o sentimento de impotência e desespero, incapacidade em ajudar, a tristeza por não saber como ajudar, a ansiedade em querer ver um sorriso de quem tanto amam, o isolamento como estratégia de proteção, o cansaço pela vigilância do comportamento, pela toma correta da medicação e a culpa por ter todos estes sentimentos, que lhes acarreta uma enorme sensação de peso sobre os ombros.

O cuidador informal, de doentes com depressão ou outra patologia emocional grave sofrem de um stresse desmedido, caracterizado por esforço físico e emocional, uma tensão permanente, privação de sono e de um isolamento progressivo do seu meio social.

Seria importante e urgente, começar a incluir o cuidador nos cuidados de saúde e acompanhar todo o seu processo emocional, que gradualmente se vai deteriorando que progressivamente se vai colocando em segundo plano. Para cuidar, também precisamos de ser cuidados, precisamos todos de ser agentes ativos na promoção da saúde mental.