O cyberbullying é uma realidade à qual devemos estar muito atentos. Esta nova forma de agressão é ainda mais forte pela sua extensão social e por ser um meio mais fácil e rápido para os cobardes lançarem o seu veneno.
Desde 2003 que o dia 10 de setembro assinala o dia mundial da prevenção do suicídio. Pelo peso e estigma que acarreta, este tema continua desprovido de entendimento e compreensão por parte da sociedade. Neste sentido e enquanto psicoterapeuta, objetiva-se aqui dar mais um contributo no esclarecimento e consciencialização do mecanismo emocional associado ao suicídio.
De forma geral, pensar na nossa morte e/ou em acabar com a própria vida provoca-nos de imediato sensações de desconforto e repulsa. Todos nós sabemos que, um dia, vamos morrer.
Porém, temos esta excelente capacidade de conseguirmos viver o nosso dia a dia sem sequer nos lembrarmos uma única vez que a vida tem um prazo. Por esta razão, todas as vezes que nos é noticiado que alguém se suicidou, os primeiros pensamentos que nos invadem são perguntas relacionadas com uma total incompreensão: porquê? Como é que a pessoa foi capaz de fazer isso? E surge sempre, a determinada altura, o «não percebo»! A incredulidade perante este ato de autodestruição resulta da nossa programação inconsciente/instintiva em afastarmo-nos de todas as situações que podem prejudicar a nossa sobrevivência. Por norma, fazemos de tudo para sobreviver. No entanto, em alguns casos, o sofrimento emocional é tão forte e desesperante, a angústia é tão grande, que a única forma de silenciar esta dor extrema é a de acabar com a própria vida.
Para compreender melhor a intensidade emocional, proponho-lhe realizar um pequeno exercício. Permita-se recordar uma experiência que sentiu e definiu como a pior dor da sua vida. Independente do conteúdo da experiência, não tem necessariamente que ser traumático, basta ter sentido um grande sofrimento. Consegue recordar esse momento? Do quão mau foi? Acredito que sim, todos nós já sentimos esta(s) dor(es).
Imagine agora que se tivesse que quantificar esta sensação, numa escala de 0 a 10, em que 10 é muita dor e 0 a ausência da mesma, onde é que ficaria? Certamente perto do 10 ou pelo menos acima dos 6, certo? Tente então multiplicar esta sensação por 100. Consegue imaginar o tamanho do desespero e angústia? Uma sensação de bloqueio emocional? A sensação de que a nossa mente e corpo não conseguem mais aguentar tanto sofrimento? Esta será a intensidade sentida pelas pessoas que decidem terminar com a própria vida. O suicídio surge, desta forma, como uma tentativa de libertação emocional da angústia.
A cada 40 segundos, uma pessoa no mundo, decide acabar com o sofrimento que tem. Em Portugal, estima-se que 1000 pessoas por ano se suicidam e que cada vida tomada afeta direta e/ou indiretamente 100 pessoas ao nível familiar e social. Estes números são assustadores e o mais trágico é que estes não param de aumentar.
As estatísticas não mentem, porém, é importante referir aqui que o suicídio pode ser prevenido. De acordo com Botega et al. (2006) apesar do suicídio envolver outros fatores, a existência de uma perturbação psicológica é uma variável decisiva no ato suicida. A perturbação depressiva é a principal dificuldade psicológica associada a este comportamento. A depressão é um estado emocional de tristeza profunda sentido durante um longo período na vida da pessoa. Nem todas as depressões conduzem ao suicídio, no entanto, dependendo da intensidade das experiências vividas, a pessoa pode entrar num estado de angústia como referimos mais acima. Por sermos seres emocionais, de forma inconsciente sentimos e guardamos cada emoção de cada momento que se vive.
O avanço tecnológico e a existência das redes sociais vieram emaranhar ainda mais esta problemática e a estrutura emocional de quem se encontra já frágil. O cyberbullying é uma realidade à qual devemos estar muito atentos. Esta nova forma de agressão é ainda mais forte pela sua extensão social e por ser um meio mais fácil e rápido para os cobardes lançarem o seu veneno. O acumular de situações de humilhação e de agressão contínua resulta numa dor silenciosa que culmina num estado de angústia, conduzindo a pessoa a um ponto de não retorno. Um ponto em que se acredita que viver é uma dor insuportável.
Apesar de existirem faixas etárias mais sensíveis é importante estarmos atentos com aqueles que nos rodeiam. A procura de ajuda profissional torna-se necessária para quebrar este ciclo de dor e sofrimento. Sim é possível! Esta dor de morte pode ser vencida e ultrapassada. A psicoterapia é uma ferramenta essencial na dissociação emocional de quem sofre.
Espero ter contribuído, hoje, a consciencializar e esclarecer nem que seja uma única pessoa. Hoje o meu pensamento está com todos aqueles que direta ou indiretamente sofrem com a vida. Sei que é difícil acreditar, mas é possível viver sem esta dor.
Nota: As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.